Nas minhas viagens e andanças por São Paulo e sequioso em desvendar os mistérios dessa cidade deslumbrante, encantadora, selvagem, desumanizada, egoísta, encontrei um cantinho do Nordeste, uma Praça cujo nome é uma homenagem "post-mortem" a um cearense de Boa Viagem.
A Praça arborizada e aprazível fica localizada no Jardim Vaz de Lima, cravado num dos maiores bairros de São Paulo – Santo Amaro, cuja população é constituída basicamente de nordestinos e descendentes. É conhecido também como o maior bairro nordestino de São Paulo. Nesse espaço a comunidade pratica atividades físicas e de lazer. É comum encontrarmos no local, rodas de crianças, jovens e idosos jogando dominó, baralho e outras atividades recreativas. À noite, serve também de abrigo e dormitório para a população de rua, esses a maioria descendentes de nordestinos, vítimas do preconceito paulista e da discriminação do mercado de trabalho.
A Praça José Alves de Souza, é uma justa homenagem a um boaviagense nascido na Várzea da Ipueira, em 6 de maio de 1937. Casado com Maria das Graças Nascimento Souza, também conhecida como Gracina, teve cinco filhos, Benedito, Dedé, Francisco, Adriano e uma única filha mulher, Dadá. Sua esposa Gracina é irmã da Chaguinha do Quinôr e do Toíca Félix, ambos ainda residentes em Boa Viagem. Também é primo do conhecido Nelson Domingo, ainda residente em Boa Viagem.
Conhecido como Ozéias, morou na Localidade de São Pedro, no terreno de propriedade do Seu Conrado, onde ajudava a rezar terços, novenas e também foi o pioneiro na alfabetização de adultos naquela região. Em 1965 migrou para São Paulo para dar uma vida mais digna a sua família.
Enfrentando dificuldades na cidade grande, mas possuidor de um coração generoso, esse conterrâneo transformou sua pequena casa de três cômodos no aconchego de vários cearenses e nordestinos de todas as regiões que também vinham para São Paulo em busca do sonho de vencer na vida pelo trabalho digno e honesto. Teve época que em sua casa moravam mais seis pessoas além da sua numerosa família. Trabalhador compulsivo, fazia "bico" até nos dias de folga para dar mais conforto aqueles que dependiam de seu trabalho.
Pessoa de convívio fácil, sempre tinha um sorriso no rosto e uma palavra de conforto. Era também apaixonado pela cultura nordestina, sendo um exímio dançador de forró e apreciador de mazuca, ritmo que dominava seus passos como poucos. Sempre que podia visitava o Ceará, e ao som da famosa vitrola organizava famosas tertúlias nas casas dos cunhados, parentes e amigos no São Pedro. Lembro-me que numa dessas tertúlias, ele fez um senhor de 75 anos de idade dançar forró. Trata-se do Sr. Francisco Jovino, residente no São Pedro. Ozéias foi a prova viva de quem venceu na vida pela decência e pelo trabalho honesto.
Faleceu ainda muito jovem, no dia 10 de outubro de 1986, aos 49 anos, deixando profunda saudade para familiares, amigos e admiradores. Foi-se o homem, mas ficou a lembrança de quem veio a este mundo com a missão de edificar a existência humana praticando atos de bondade e generosidade sem olhar a quem. Deixou amigos espalhados por todo o bairro de Santo Amaro, onde mantinha um trabalho pastoral junto com a Igreja Católica, e principalmente no Ceará onde nasceu na querida Boa Viagem.
O Decreto nº 26.515, de 29 Jul 88, que oficializou a homenagem foi publicado no Diário Oficial de São Paulo, 33 (142), de 30 de julho de 1988, assinado pelo então prefeito em exercício Cláudio Lembo.
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